terça-feira, 14 de abril de 2015

Terríveis Segredos - Capitulo 6

Entro correndo na cozinha e encontro minha mãe com duas xícaras de chá servidas, ela já estava sentada em uma cadeira me esperando. Ela me conhece muito bem e sabe o que eu quero saber. 
- Eu sei, só podemos esperar seu pai?  Ele é tanto parte disso quanto eu.
- Aonde ele foi? 
- Comprar mais chá, sinto que vou precisar. - disse ela tomando um gole do seu chá - Ele já deve estar  chegando. 
- Quanto tempo eu dormi?
- Duas horas. Seu pai já foi na escola pegar seu novo horário. 
- Como assim novo horário? 
- Mestiços tem aula de magia na escola. 
A cada fala minha mãe bebia uma boa quantidade do seu chá. Chá de camomila sempre foi um bom calmante para nos duas. Eu estava nervosa,  sim claro, mas mais do que nervosa eu estava curiosa. 
Perguntas rodeavam a minha mente. Quem ou o que eu era de verdade?  Por que nunca me contaram sobre isso? Por que só agora isso veio à tona? 
Mas minha mãe sempre espera meu pai,  não importa para que, ele sempre tinha que estar do lado dela, era como se ele desse força para ela. Eu sempre achei isso lindo, um casal que se completa de maneira tão perfeita. Às vezes fico me imaginado se vou encontrar alguém assim. 
O mais engraçado é que minha mãe sempre soube quando meu pai estava chegando e isso era perceptível em seu rosto, quando ele está por perto é como se uma luz se acendesse no rosto dela e ela nunca consegue se conter e sorri de uma maneira que sempre me deu certeza que ela o amava. 
E isso era o que estava acontecendo, ou seja, meu pai estava chegando, nossa conversa finalmente iria prosseguir. 
Meu pai entrou na cozinha com duas sacolas, uma que cheirava camomila e outra que cheirava a magia, não sei como reconheci, só sei que foi a única coisa em que eu associei aquele cheiro. 
- Isso explica o porque do atraso, passou na loja da Karen??
- Passei, achei que seria bom para nossa filha ter uma ajudinha nisso tudo. 
- Quem é Karen?
- Karen é uma bruxa, ela é dona de uma loja de objetos que bruxos podem usar para certas coisas. - Disse meu pai me entregando uma das sacolas, a que tinha cheiro de magia. 
- O que tem aqui dentro? 
- Cristais, alguns cristais tem certos efeitos sobre pessoas como nós que possuímos magia, ao todo tem cinco aí, mas tome cuidado, não os use sem saber para que servem. 
- Como dizem, os conselhos de uma velha bruxa sempre são valiosos, escute a sua mãe. 
- Tudo bem pai, mas a mãe não é assim  tão velha, ou é? 
- Eric pare de assusta-lá. 
Minha mãe não conseguiu se conter e começou a rir de uma maneira contagiante. Depois de no mínimo dez minutos ela conseguiu se fazer parar. Com sua energia revigorada e um sorriso  ela esperou, esperou que eu tomasse uma iniciativa, afinal essa conversa era o que eu mais esperava e não ela. 
- O que eu sou? 
- Você é uma mestiça. - disse ela. - meio humana e meio bruxa. 
- Sou filha legítima de vocês?
- Não, sobre isso nós te contamos a verdade. 
- Se mestiço significa meio humano e meio bruxo, o que significa meio ralé? 
Meu pai e minha mãe trocaram um olhar curto, mas significativo. 
- Meio ralé é o termo preconceituoso para se referir à pessoas como você. Sinto muito, mas eu acho que vai ter que se acostumar com ele, vai ser freqüente você ouvir esse termo. 
- Então... Eu sou uma mestiça, e...  E o que mais vocês podem me contar?  Porque eu não sei mais o que perguntar. 
- Há dois clãs distintos de bruxos, cada um formados por cinco famílias, os Amethystus e Magnetites, eu era uma Magnetite, mas fui banida por me envolver com seu pai. 
- O que difere os dois?
- Os Amethystus são de essência bondosa eles usam sua magia somente para coisas boas,mas não se engane mesmo os bondosos podem lutar, já os Magnetites... 
- Os Magnetites são cruéis, sua magia foi corrompida portanto só produz dor, por isso a sua mãe ... Por isso ela perdeu a consciência depois de fazer as flores crescerem, se um bruxo que contem a magia corrompida produz beleza com ela, seu próprio poder se vira contra ele. 
- Então minha magia vem de que clã? 
- Não sabemos, como dissemos você foi adotada, depois que sua mãe biológica faleceu ao te dar a luz - Nessa hora Amy que estava empoleirada na janela da cozinha deu um grande miado que pareceu bem triste, e pelo olhar dos meus pais todos sentiram o mesmo- Sabemos que você é uma mestiça porque foi a única informação que nos deram quando te adotamos. 
Digerir tudo aquilo foi demais para mim. Tive que me levantar e sair. No meu quarto tentei pensar em tudo. 
Sou uma mestiça, existem cristais que podem ter efeitos diferentes em mim por eu ter magia, posso pertencer a um clã maligno ou bondoso, e dependendo disso se minha magia for corrompida ela pode se vingar contra mim caso eu faça algo bonito e puro.
Fiquei pensando em tudo isso até escurecer e eu adormecer.

Adormeço com a sensação de que as coisas poderiam piorar.

No meu sonho, ou melhor pesadelo, eu estava em uma grande campina, com o sol alto encima da minha cabeça.
Era uma visão linda, porém algo em mim dizia que algo ruim estava para acontecer. 
"Olhe com atenção " uma voz conhecida falou ao meu lado. Mas ao procurar o dono da voz eu não o encontrei em lugar nenhum. 
- Aonde você está? - nada  - Espírito?  
" Olhe com atenção " ele repetiu. 
- Aonde você está?  Não sou mais digna de sua presença? 
É incrível como a minha memória é perfeita em sonhos. 
" Você sempre será, mas isso você tem que enfrentar sozinha"
- O que é isso? O que vai acontecer nesse sonho? 
"Apenas observe pequena bruxa ".
Em instantes a campina se ampliou, transformando se em um vale realmente grande, grande o suficiente para ser o cenário de uma guerra. 
Como se ouvissem meus pensamentos dois exércitos subiram o vale.  Atrás deles criaturas estranhas os seguiam, como no meu último pesadelo. 
"Este é diferente do seu último pesadelo e você sente isso, você saberia me dizer o por que?"
- São pessoas. Não são anjos, nem demônios, são apenas pessoas e animais. 
"Como você pode dizer com tanta certeza que não são anjos e demônios? Você pode ver suas essências? "
Olhando com mais atenção eu vi, vi uma áurea saindo de cada  exército, uma negra que ofuscava a luz do sol e a outra tão dourada que me cegou por instantes. 
" Agora você vê, estes pesadelos são coisas que você tem que enfrentar sozinha, mas você tem que aprender a ver mais profundamente. Você precisa ver com os seus poderes, com a sua alma, só assim você vai entender esses sonhos que te afligem".
Com mais atenção ainda eu pude ver suas intenções, era a liberdade ou a morte. Os poderes que emanava deles me inundavam, me incentivando a ir lutar, ambos os lados me chamavam. Meu corpo queria obedecer, se dividir  e lutar pelos dois lados, mas minha mente e meu coração sabiam que aquilo não era possível, eu tinha que escolher um lado, mas eu não conseguia, não posso não consigo. 
"Essa será a sua maior luta , será a luta da sua vida pequena bruxa". 
- Qual é a minha essência? Se ela for corrompida, será que vale a pena fazer coisas boas com ela? 
"Me diga você pequena bruxa, valerá? "
- Como assim valerá? Espírito? Isso vai acontecer? Essa guerra? 
" Isso é apenas uma questão de tempo "

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